segunda-feira, 24 de maio de 2010

O carrasco do amor


Trechos extraídos da introdução do novo livro de Irvin Yalom, O carrasco do amor.

Na terapia, assim como na vida, a presença de significado é um subproduto do vínculo e do comprometimento, e é nesse sentido que os terapeutas devem dirigir seus esforços – não que o vínculo ofereça uma resposta racional às perguntas sobre significados, mas porque faz com que essas perguntas não tenham importância.

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Em seu trabalho cotidiano, quando os terapeutas se relacionam com seus pacientes de uma maneira autêntica, experienciam uma considerável incerteza. A confrontação de um paciente com perguntas sem resposta não somente expõe um terapeuta às mesmas perguntas, como ele também deve reconhecer que a experiência do outro é, ao final, inexoravelmente privada e incognoscível.

Na verdade, a capacidade de tolerar a incerteza é um pré-requisito para a profissão. Embora o público possa acreditar que os terapeutas orientam os pacientes sistemática e confiantemente por meio de estágios predizíveis de terapia até um objetivo previamente conhecido, esse raramente é o caso: ao contrário, como estas histórias testemunham, os terapeutas com freqüência hesitam, improvisam e tateiam em busca de uma direção. A poderosa tentação de obter uma certeza abraçando uma escola ideológica e um sistema terapêutico hermético é traiçoeira: essa crença pode bloquear o encontro incerto e espontâneo necessário para uma terapia efetiva.

Esse encontro, o verdadeiro âmago da psicoterapia, é um encontro afetuoso, profundamente humano entre duas pessoas, uma delas (geralmente, mas nem sempre, o paciente) mais perturbada do que a outra. Os terapeutas possuem um duplo papel: devem tanto observar quanto participar da vida de seus pacientes. Como observadores, devem ser suficientemente objetivos para oferecer a orientação rudimentar necessária ao paciente. Como participantes, entram na vida do paciente, são afetados por ela e, algumas vezes, modificados pelo encontro.

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Embora estes contos sobre psicoterapia estejam cheios das palavras paciente e terapeuta, não me deixo iludir por esses termos: estas são as histórias de todos os homens, de todas as mulheres. A condição de ser paciente é onipresente; a aceitação do rótulo é amplamente arbitrária e freqüentemente depende mais de fatores culturais, educacionais e econômicos do que da severidade da patologia.

Uma vez que os terapeutas, não menos que os pacientes, precisam se confrontar com esses dados da existência, a postura profissional da objetividade desinteressada, tão necessária ao método científico, é inadequada. Nós, psicoterapeutas, não podemos simplesmente tagarelar com simpatia e exortar os pacientes a se debaterem corajosamente com os seus problemas. Nós não podemos dizer a eles você e seus problemas. Ao contrário, devemos falar de nós e de nossos problemas, pois a nossa vida, a nossa existência, estará sempre presa à morte, do amor à perda, da liberdade ao temor e do crescimento à separação. Nós, todos, estamos juntos nisso.





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