quarta-feira, 20 de março de 2013

A primeira birra a gente nunca esquece

Quando meu filho tinha dois anos, chegou a hora dele nos “presentear” com a sua primeira birra clássica. Era de noite, hora de mamar na cama e dormir. Porém, ele queria mamar na sala em frente à televisão, o que era algo que não queríamos que ocorresse. Colocamos o menino no quarto e ele começou a chorar alto, ficar de pé no berço, pedindo para ir pra sala. Como não é um hábito que queríamos incentivar, achamos que ceder naquele momento abriria brechas para que em outros dias o mesmo pedido se repetisse. Assim, ficamos firme na posição “você vai mamar no quarto porque é hora de dormir”. Ele não aceitou e começou a chorar mais alto e gritar.

Eu iria assistir futebol e minha esposa que estava com ele no quarto me chamou pedindo ajuda. Entramos os dois no quarto, fechamos a porta e repetimos a ordem de não sair do quarto. Minha esposa o pegou no colo e ele continuou gritando. Ele levantava e ia em direção à porta querendo sair. Sentei-me no chão à frente da porta e disse: papai e mamãe estão aqui contigo pra te ajudar a passar por essa birra. Nós não vamos bater em ti de jeito nenhum, mas nós vamos te ajudar. Do quarto ninguém vai sair, essa é a posição do papai e da mamãe. Seu choro não vai mudar isso. Se quiser pode deitar aqui no chão, ou voltar pro berço, onde preferir, mas do seu quarto você não sairá, ok?

Aguentamos firmes a birra inicial e ele, que já estava com sono, foi cedendo aos poucos à nossa posição. Enquanto eu me mantinha sentado no chão obstruindo a porta, minha esposa voltou a abraçá-lo forte, mesmo que ele a princípio não quisesse. Este contato de corpos que se dá no abraço firme, apesar da resistência inicial da criança, é muito mais seguro para ela do que um contato rápido de um tapa na bunda. O tapa aumenta a ansiedade, o abraço acalma.

Aos poucos ele foi se tranquilizando, resolveu deitar numa almofada no chão, que era uma parte de nossa negociação com ele que podíamos aceitar. Pegou a mamadeira ainda choramingando, mas já sem a intensidade de antes. Ficamos ali no escuro do quarto, em silêncio, dando a nosso filho a nossa presença firme. Minha esposa no sofá-cama, eu sentado no chão e nosso filho mamando deitado sobre a almofada. Uma cena aparentemente cômica, mas que foi fundamental para mostrar a nosso filho quem é a autoridade aqui em casa.

Esta foi a primeira birra dele. E a última. Em nenhum outro momento nos anos seguintes ele repetiu tal comportamento. Foram aproximadamente cinquenta minutos de “luta” com nosso filho até ele dormir tranquilo, sem precisar apelar para nenhum tipo de punição física.

Quando terminou tudo, vi que o segundo tempo da partida de futebol que eu iria assistir naquela noite já havia terminado. Não estou lembrado se meu time ganhou ou perdeu naquela noite.

Mas a minha família ganhou.

Um comentário:

DaniSapoo disse...

Muito bom! COmpartilhei!