terça-feira, 12 de abril de 2016

Sobre crianças e Política

Para um pai que não gosta de deixar seu filho sem respostas, os últimos dias têm sido um grande desafio. Como explicar para uma criança os temas políticos que estão em pauta no país?

Ando pensando nisto ultimamente.

Não costumo incluir meus filhos pequenos nas conversas sobre política, especialmente neste momento de radicalização e polarização. Tenho bons motivos para temer que eles se envolvam em alguma discussão em que crianças repetem o que está sendo falado em casa, e, pior, algumas vezes com o mesmo grau de ódio de seus pais, como já tive oportunidade de presenciar.

Mas os acontecimentos políticos estão também alcançando as nossas crianças, despertando nelas dúvidas e curiosidades. E eu acredito que dentro do ambiente familiar, especialmente na relação com seus pais, a criança deve sentir-se livre para fazer qualquer tipo de pergunta, sem ter medo de estar “falando besteira”, ou “fazendo perguntas demais”, ou ainda “se metendo em conversa de adulto”. Se ela está perguntando, é porque de algum modo a temática está dentro do seu universo. 

Não responder, ou criticá-la por perguntar, seria limitar a sua curiosidade, e ela aprenderia que há coisas que não se deve perguntar aos pais. E este aprendizado vai alcançar também a sua adolescência, quando ela achará melhor então não comentar com os pais sobre o colega que está lhe oferecendo droga, não perguntar o que é cocaína, não relatar sobre a bebida que distribuíram na festa de ontem.

A criança que está perguntando - perdão pela redundância - é uma CRIANÇA. Portanto, a resposta precisa estar de acordo com a sua capacidade de discernimento. Para falar sobre política com uma criança, vale a mesma regra para quando se fala sobre morte, doença, divórcio dos pais, sexualidade, que são temas delicados mas necessários: não deixar de falar, porém não chegar a níveis de complexidade que tornem difícil o entendimento sobre o assunto, ou que a obriguem a se envolver além de sua capacidade de ação e compreensão.

Mas a criança está curiosa, ouve falar disso na escola, presencia discussões políticas no almoço de família, conversa com amiguinhos que repetem as falas dos pais. E então ela vem até nós com suas questões:

Pai, por que meu amigo acha a Dilma uma vaca?
Pai, o que é corrupção?
Pai, o Lula vai ser preso hoje?
Pai, por que o Aécio quer tirar a Dilma?
Pai, o que é impeachment?
Pai, criança pode ser presa?

Com estas perguntas (feitas literalmente pelo meu filho de 7 anos), a criança está nos pedindo: pai, conversa comigo sobre isso! Eu quero entender o mundo em que vivo.

E é aqui que não podemos deixá-la no vácuo, e temos a responsabilidade de ajudá-la. É o momento para conversar sobre direitos humanos, eleições, democracia e ditadura, respeito aos diferentes, pobreza, classes sociais. Conversas que, feitas de modo simples, podem ajudar a criança a ampliar sua visão de mundo e conhecer melhor a sociedade em que ela está vivendo. Conversas que se refletirão na construção de sua identidade e sua cidadania.

As crianças têm que se preocupar em não cair do escorregador, brincar até se cansar, arrumar o quarto, jogar muita bola, andar de skate, fazer a lição da escola, correr na pracinha.  Não é hora ainda de se preocupar com golpes políticos, com inflação, com taxa do dólar, com radicalismos ideológicos.

Mas quando elas perguntam, elas precisam de respostas. É direito delas.


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