terça-feira, 29 de junho de 2010

Criança, a alma do negócio

Vale a pena tirar um tempinho e assistir a este documentário.



As outras partes do documentário vc pode ver clicando aqui

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pessoas resolvidas

Conversa na recepção: Conversa vai, conversa vem, digo que sou psicanalista. A moça entra em pânico, temerosa de que eu tivesse poderes para ver a sua alma. "Eu já fiz terapia", ela disse. "Mas agora estou resolvida". Pergunto: "Quando se deu o óbito?". Ela me olha sem entender. Óbito? Explico: as únicas pessoas resolvidas que conheço estão no cemitério.
Extraído do novo livro do Rubem Alves, "Do universo à jabuticaba" (Ed. Planeta)


terça-feira, 22 de junho de 2010

À deriva


Seria difícil conceber castigo mais demoníaco, pudesse uma tal coisa ser posta em prática, do que abandonar uma pessoa à deriva na sociedade por forma a passar despercebida a todos os seus membros. Se ninguém se voltasse para nós ao ver-nos entrar em casa, se ninguém nos respondesse quando nós falássemos, ou se preocupasse com o que fizéssemos, mas se toda a gente que conhecêssemos nos "desligasse do mundo" e agisse como se fôssemos entidades inexistentes, não tardaríamos a ser tomados de uma espécie de desespero de raiva e impotência, de que a mais cruel das torturas corporais seria um alívio.
William James (1842-1910), filósofo e psicólogo


segunda-feira, 21 de junho de 2010

A menina que detestava livros


O curta que você verá abaixo é baseado no livro de estréia da indiana Manjusha Pawagi, "A Menina que Detestava Livros", uma deliciosa metáfora sobre a descoberta do prazer da leitura.
Posso dar uma sugestão? mostre este video pras crianças da sua família, pois é um belo estímulo à prática da leitura.

domingo, 20 de junho de 2010

Conversando sobre a morte - Parte 2

Anotações importantes para quem vivencia experiências de morte na família:

  •  A vontade de "parar o tempo" e a sensação de que "a vida acabou" são comuns ao momento da perda. Tristeza, culpa, dor, sensação de vazio, e muitos outros sentimentos vêm à tona, e precisam ser vivenciados. O processo de luto leva tempo, e a reorganização pessoal e familiar se dá lentamente, sem fórmulas mágicas. 
  • A procura por auxílio profissional é importante no processo de aceitação da perda. Falar sobre a dor com alguém de fora da família é benéfico, e serve como uma espécie de ritual para aliviar o sofrimento.
  • Os rituais de luto são uma importante maneira de elaborar a perda, facilitando a expressão da dor. Isto também vale para as crianças, que devem ser autorizadas a participar de tudo o que queiram. 
  • Na medida do possível, voltar à rotina aos poucos ajudará a restabelecer as atividades do cotidiano – escola, trabalho, convívio social. Apesar do impacto inicial, que desestabiliza o sistema, tais atividades não devem ser paralisadas por tempo prolongado. 
  • Falar sobre a morte e chorar sempre que tiver vontade ajuda. "Engolir o choro" ou "ser forte" neste momento não ajuda muito. O luto é elaborado na medida em que se entra em contato com a dor. 
  • Fazer visitas ao cemitério, escrever cartas, ver fotografias, são atitudes que podem contribuir para uma maior assimilação da perda. Muitas vezes é necessário que haja um tempo de readaptação até ser possível realizar tais atos. 
  • O sentimento de culpa é muito comum em casos de suicídio ou acidentes. Há uma forte sensação de que se poderia ter feito algo para evitar (fantasia de onipotência). Esse pensamento impede que se viva a realidade da perda. A culpa é, em certa medida, uma forma de fugir da dor. 
  • Respeitar os limites pessoais no processo de luto. Cada pessoa é diferente, e possui maneiras e recursos diferentes para lidar com a dor. O tempo de cada um também é diferente. 
  • Envolvimento em novas atividades. Alguns se aproximam da religião, outros envolvem-se em causas, ou dedicam-se ao esporte ou atividades artísticas. Desde que isto não seja apenas uma fuga para negar a dor, pode ser bastante benéfico para não ficar paralisado por ela. 
  • É importante não esconder as circunstâncias ou causas da morte, às vezes envolvidas por tabus e preconceitos. Quando há segredos, as pessoas, além de criar explicações fantasiosas sobre a perda, correm o risco de repetir a história e entrar numa ciranda de perdas sucessivas. 
  • Assistir filmes ou ler livros que tratam do tema da morte também pode ajudar no processo de assimilação. 
  • É importante questionar o impulso de realizar mudanças bruscas imediatas, como mudança de casa ou de cidade. As mudanças que o episódio da morte traz à família já são, em si, difíceis. É preferível, na maioria dos casos, esperar passar um tempo para decisões importantes que envolvam outras perdas. 
  • É importante ficar atento para não esquecer ou rejeitar os familiares ainda vivos (outros filhos, por exemplo). Muitas vezes frases do tipo "não tenho mais razão pra viver" não permitem que se perceba a existência e continuidade da vida dos que estão vivos.

A primeira parte do artigo está aqui.

sábado, 19 de junho de 2010

Mais estranho que ficção

E se você descobrisse um dia que sua vida não é escrita por você, mas por outra pessoa, o que você faria? Harold Crick descobriu que era na verdade um personagem de um livro narrado por uma escritora, e que não era o autor da sua própria história.
Até que ele resolveu encarar esta situação, ir atrás dos seus sonhos e tomar a vida de volta em suas mãos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Inclusão de links

Acrescentei na coluna lateral do blog alguns links para websites que considero relevantes:

Dulwich Centre é o centro localizado em Adelaide - Austrália, em que trabalhava Michael White.

Perspectivas Sistêmicas disponibiliza vários artigos on-line.

Também incluí mais dois sites relacionados às práticas narrativas, The Institute of Narrative Practice e Centre for Narrative Practice.

Além destes, coloquei o link para o website do Familiare Instituto Sistêmico de Florianópolis.

Quando você tiver um tempinho pra ficar navegando, vale a pena explorar cada website para descobrir muitas coisas interessantes neles.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Conversando sobre a morte

Certa manhã, quando eu estava ainda no início de minha vida profissional, fui chamado ao telefone. Do outro lado da linha uma pessoa solicitava ajuda terapêutica para lidar com o luto de seu filho que acabara de falecer.

Num primeiro instante, a possibilidade e o desejo de aprender mais se confundiam com os temores advindos da responsabilidade de poder ajudar uma família que estava passando por uma experiência tão difícil e delicada, como a morte de um filho.

Pude perceber que os sentimentos evocados em mim naquele momento eram também um reflexo de como a sociedade lida com o tema da morte. Os temores, as angústias, os receios, os medos, a falta de respostas, a ausência de palavras, a busca de explicações, a sensação de impotência, todo este “arsenal de sentimentos” faria parte, a partir de então, de uma longa jornada de luto ao lado de meu cliente.

Para todos nós, a experiência da morte é vivenciada como um momento de grande sofrimento, em que vem à tona uma gama de sentimentos como incredulidade, espanto, raiva, tristeza, pesar, desconsolo, impotência, vazio interior, futilidade, ansiedade, desespero, indignação. 

A perda de um ente querido modifica a estrutura familiar, e geralmente requer a reorganização do sistema como um todo. Portanto, é uma experiência que impõe desafios adaptativos para a família e cada um de seus membros individualmente. O luto, então, é visto como este período necessário, para recolocar em ordem a vida e reorganizar o sistema familiar.

Entretanto, tal reorganização não significa uma resolução, no sentido de aceitação completa e definitiva da perda, mas envolve a descoberta de maneiras de assimilá-la e seguir em frente com a vida. 

Talvez, um dos aspectos mais difíceis para a família no tempo de luto seja a comunicação intra-familiar, ou seja, a possibilidade de compartilhar abertamente sobre a experiência da morte. 

A dificuldade vem pelo fato de que a vivência familiar do luto, e a dor advinda desta vivência, muitas vezes acionam nos membros da família o desejo de proteger o outro membro de seu sofrimento, bem como proteger a si mesmo da ansiedade de ver o outro sofrer. 

A “saída” para este dilema passa a ser o silêncio e a tentativa de ocultar as emoções e reações emocionais, evitando tocar no assunto da morte. Porém, os efeitos desta postura são contrários ao que se deseja, pois a comunicação familiar fica prejudicada, alimentando fantasias secretas, num ambiente em que todos sofrem em silêncio e escondidos. 

O desafio então é buscar obter algum controle sobre suas próprias reações à ansiedade do outro, para abrir a possibilidade de se conversar sobre a morte e sobre a dor experimentada por cada um. Assim, neste sistema de relacionamento aberto, o indivíduo está livre para comunicar ao outro seus pensamentos internos, sentimentos, angústias e fantasias, possibilitando a construção de um ambiente propício a descobertas de novos caminhos para a reorganização familiar.

O processo de luto pode durar anos, durante os quais cada evento, estação, feriado e aniversário acionarão novamente a antiga sensação de perda. Enquanto este processo continua, a família vai se ajustando à ausência de seu membro morto. Os papéis e as tarefas são redistribuídos, novos relacionamentos são formados e as antigas alianças são transformadas. 

Eventualmente, chega um momento em que a maioria das famílias consegue, de forma geral, assimilar sua perda, embora o luto nunca seja totalmente terminado. Sempre haverá eventos que evocam lembranças da pessoa perdida, mas, com o tempo e a cicatrização, a dor se torna menos crua e intensa, liberando energia para outros relacionamentos e possibilitando a re-incorporação da pessoa que morreu sob uma nova perspectiva na história familiar. Afinal, quando um membro da família morre, o relacionamento com esse membro não morre, nem tampouco a sua história.

Lidar com a morte e o luto envolve um processo, sem fórmulas mágicas e prontas. Cada experiência de perda é única, assim como são únicos os passos e desafios necessários para a elaboração de cada uma destas experiências. É uma jornada caracterizada por uma complexidade emocional e relacional, que nos remete à finitude da existência humana, e nos convida a posicionar a morte como parte inexorável da vida. 


BIBLIOGRAFIA:

BOWEN, Murray. A reação da família à morte. In WALSH, Froma. & MC. GOLDRICK, Monica. Morte na família: sobrevivendo às perdas. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
WHITE, Michael. “Saying hullo again: the incorporation of the lost relationship in the resolution of grief”. In Selected Papers. Adelaide, Australia: Dulwich Centre Publications, 1988.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Como sobreviver à própria família



Reproduzo abaixo a Introdução deste excelente livro do terapeuta familiar Mony Elkaim.


Quem nunca se sentiu, em algum momento, preso na própria família? Quem nunca teve a impressão de ser esmagado por uma realidade sobre a qual não podia influir? Desejo que esta obra esclareça essas situações familiares, que todos conhecemos, com uma luz diferente da que estamos acostumados. Na maioria das vezes, não é a realidade em si que nos prepara uma armadilha e sim uma representação dessa realidade construída com o passar dos anos e dos acontecimentos. Como vamos ver, cada um desempenha um papel bem específico no roteiro familiar e a distribuição desses papéis, em geral, é feita à revelia de todos. A armadilha se fecha, um sistema rígido se instala e todos se sentem prisioneiros. Alguns membros da família sofrem, sintomas aparecem...


Ao descrever e comentar as situações, das quais a maior parte diz respeito à nossa vida cotidiana, tentei oferecer ao leitor uma forma de perceber o que lhe acontece; tentei mostrar de que maneira participa delas sem querer, e como, para sair desse círculo vicioso no qual está preso com os parentes, ele pode conseguir delimitar o seu território, fazendo com que seja respeitado pelas pessoas que o cercam - sem provocar hostilidade, mas, ao contrário, conseguir aliados e não adversários.

Sobreviver à própria família passa a ser, então, sobreviver à idéia que fazemos dela. Como os membros da minha família, a cultura na qual cresci, meus relacionamentos sociais, a mídia, me constroem, me esculpem, limitando a minha capacidade de mudança ou de adaptação? Por que me sinto preso na minha realidade familiar? Será que não participo, contra a minha vontade, da escultura de uma situação que, forçosamente, é mútua?

Desde o meu nascimento, estou preso num contexto: a maneira como fui esperado, olhado, o nome que recebi e muitos outros elementos constituem um ambiente de regras e mitos, criado e compartilhado entre os membros da família, cuja coesão e permanência ela garante. Desde que cheguei ao mundo, participo desse universo cuja estrutura também manterei. À medida que vou crescendo, os mitos e as regras da minha família não poderão mais ser diferenciados da maneira como eu os percebo e como me situo em relação a eles. A partir de então, torno-me ator da peça que representamos juntos: como vou me dar o direito de ser suficientemente "desleal" em relação àqueles que me cercam, ou à imagem que tenho deles, para ver minha família de um modo diferente do que eles a vêem - de um modo diferente do que eu também a vejo? Como abrir caminho fora das rotinas repetitivas e aparentemente inevitáveis nas quais nos atolamos de comum acordo?

Essas são as perguntas às quais este livro se esforça para responder. Evitando longas elaborações teóricas, me esforcei para comentar casos concretos e mostrar o ensinamento que podemos tirar deles.

Aqui vão algumas explicações. Em primeiro lugar, foi impossível ser exaustivo. Diante da imensa e complexa paisagem das situações familiares, precisei fazer uma escolha. Porém, como veremos, muitos dos princípios evidenciados num caso também valem para outros e trata-se mais de compreender a natureza do que podemos fazer e não de aplicar receitas mecanicamente. Em segundo lugar, esses princípios, válidos na maioria das situações da vida cotidiana, não funcionam da mesma maneira em contextos de abuso e violência em que devemos, antes de tudo, nos proteger, nem em casos graves em que uma ajuda medicamentosa e, se necessário, uma hospitalização devem completar a psicoterapia. Finalmente, eles não são dirigidos especificamente aos filhos, nem aos pais, pois todos estamos envolvidos em relações cujas tensões incessantes só poderemos evitar se aceitarmos reconhecer o papel que nós mesmos desempenhamos nelas. Como este livro vai mostrar, assim espero, é a conquista da nossa capacidade em modificar as regras do sistema em que vivemos que permitirá a todos os membros da família terem acesso à mudança. Assim é que os vínculos que me unem aos outros, lugares e causas do meu sofrimento, podem ser os próprios caminhos da minha libertação e da deles.

Mony Elkaim
Como Sobreviver à própria família
São Paulo: Integrare Editora, 2008





quarta-feira, 9 de junho de 2010

Encontro de gerações

A família é um sistema dinâmico e relacional, em que várias pessoas compartilham experiências entre si, ao mesmo tempo em que vivem, individualmente, experiências diferentes. Ou seja, numa mesma família, numa mesma circunstância, cada membro está vivenciando algum momento específico e único de sua existência. 

Para exemplificar, vamos pensar numa família em que acabou de ocorrer o nascimento do segundo filho. A criança que acabou de nascer está vivendo sua primeira infância. O seu irmão mais velho, de 13 anos, começa a experimentar o desafio de sair de sua própria infância e entrar num mundo novo de novas descobertas: a adolescência.

Os pais que, até então, eram pais de filho pequeno, agora passam a ser pais de filho adolescente e têm que lidar com as suas demandas emocionais e sociais, ao mesmo tempo em que, com o nascimento do bebê, voltam a re-experimentar o gosto de serem pais de um recém-nascido. 

Além disso, esses mesmos pais também são filhos, pois ainda se relacionam com seus próprios pais, visitando-os regularmente, e tendo uma convivência de proximidade com eles. Estes, por sua vez, estão vivenciando neste momento a experiência de serem avós pela segunda vez, mas pela primeira vez serão avós de um neto adolescente. E é melhor parar por aqui senão vai ficar cada vez mais complicado de entender.

Este exemplo, se não deu um nó na cabeça do leitor, pode ajudar a entender o que estou querendo dizer com “sistema dinâmico e relacional”.

A família, então, pode ser vista como um sistema que se move através do tempo, em que a cada estágio do ciclo de vida, os papéis e funções de cada membro vão se configurando, e se modificando, formando uma espiral trans-geracional, com filhos, pais, avós, às vezes bisavós, todos mergulhados numa complexa teia de relações.

Quando pensamos nos relacionamentos entre as gerações, temos que nos lembrar desta dinâmica, para não perdermos de vista esta complexidade que envolve a família e seus relacionamentos.

Quando pessoas de diferentes gerações se relacionam entre si, é natural que as diferenças de idéias, pensamentos, valores, comportamentos, venham a aparecer. Tais diferenças geram conflitos. E muitas vezes não há como evitar o conflito entre estas gerações. Entretanto, o conflito no convívio familiar também pode ser compreendido como uma crise saudável, capaz de proporcionar crescimento. É no conflito que também novas formas de pensar e  agir podem surgir, ampliando a experiência familiar.

Se o conflito é muitas vezes inevitável, então qual é a alternativa que temos? De que outras maneiras o conflito pode ser vivido, sem que ele se eternize, e passe a dominar a vida da família, como um ditador que não permite que seus membros vivam em paz? Quais os desafios enfrentados pelas famílias de hoje, para que possam lidar, de maneira menos conflituosa, com as diferenças entre as gerações? 

Sem acreditar em respostas simples, nem em fórmulas mágicas, quero sugerir três posturas que podem ser exercitadas e buscadas no contexto familiar:

Negociação. É importante que a família exercite a capacidade de negociar conflitos, com respeito mútuo pelas diferenças de cada um. Numa família, os diferentes momentos do ciclo de vida pelos quais passa cada membro fazem com que as necessidades sejam diferentes. Além disso, a visão de mundo, a linguagem, as experiências, tudo isto vai mudando na medida em que novas situações emergem na história da família. Isto requer de cada membro a possibilidade de permitir que opiniões divergentes possam ser manifestadas e as regras vigentes negociadas.

Flexibilidade. Em cada família há determinadas regras, as quais funcionam bem em determinados momentos. Porém, outros contextos podem exigir uma reavaliação destas regras. A capacidade da família de ser flexível diante de situações novas pode facilitar a boa convivência entre as gerações, na medida em que permite ajustar-se às mudanças de maneira mais maleável. Famílias em que há uma rigidez muito forte tendem a ter mais dificuldades de adaptação a uma nova situação, elevando os níveis de stress e conflitos entre seus membros.

Estabelecimento de fronteiras e funções. O medo de repetir o padrão antigo de autoritarismo e intolerância dentro das famílias empurrou a família moderna a um outro extremo, em que se perdeu a possibilidade de estabelecer limites e hierarquias que possam ajudar a família a exercer em seus membros um papel formador e estruturante. Em alguns ambientes familiares será necessário resgatar estes papéis, incluindo os direitos, deveres e as limitações próprias de cada função, de maneira que esteja claro para cada membro da família qual é o lugar de cada um neste sistema. Filhos são filhos, pais são pais, e avós são avós.

Estamos falando bastante sobre os conflitos nos relacionamentos entre as diferentes gerações, mas não podemos deixar também de falar das grandes oportunidades contidas nestas relações. Nem só de conflitos vivem as gerações. Há também aprendizado. Pais, filhos, e avós podem sim, experimentar um convívio de troca recíproca, na medida em que tomam consciência de suas diferenças, de suas limitações e de suas funções na família. 

Em um ambiente de negociação, flexibilidade, fronteiras claras e compreensão mútua é possível fazer da família um espaço de crescimento individual, de construção da identidade, e de diferenciação pessoal, enquanto as gerações vão se movendo através da vida. 

Penso que um dos desafios da família na atualidade consiste em tentar descobrir formas de diminuir as tensões existentes entre as gerações. Não se pode eliminar totalmente o conflito – ele é inevitável e faz parte do desenvolvimento familiar. Tampouco se deve negá-lo, como se num passe de mágica ele fosse deixar de existir. Mas talvez seja possível transformar o conflito em uma oportunidade de confluência, um ponto de encontro, e não desencontro, das distintas gerações.

BIBLIOGRAFIA:
Andolfi M., Angelo C., Menghi P. & Nicolo-Corigliano A.M. – Por trás da máscara familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
Bowen Murray. De la familia al individuo. Barcelona, Paidós, 1991.
Carter, B.; McGoldrick, M. As mudanças do ciclo de vida familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.