Uma revista de grande circulação nacional deveria servir para informar a população, correto? Não necessariamente, quando estamos falando da Revista Veja.
Na tentativa de diminuir a desinformação causada pela matéria "Parece Milagre", capa da edição de 07 de setembro de 2011, vários órgãos ligados à área da Saúde estão emitindo notas oficiais e esclarecimentos à população.
A matéria parece, na verdade, não passar de uma irresponsável propaganda pra vender remédio.
Leia abaixo algumas importantes manifestações:
O milagre da irresponsabilidade
Por Ligia Martins de Almeida em 05/09/2011, Observatório de Imprensa
Nota da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica
Esclarecimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Nota da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia: Irresponsabilidade da Revista Veja é criticada por Associação Médica
terça-feira, 13 de setembro de 2011
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Irresponsabilidade da revista Veja é criticada por Associação Médica
A revista Veja trouxe em sua edição da semana passada, mais uma matéria que induz a população a erros que podem colocar em risco a sua saúde. A reportagem de capa, intitulada "Parece Milagre!", foi duramente criticada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Leia abaixo o comunicado que a SBEM fez a seus associados, e o conteúdo da carta que a associação enviou para a revista Veja:
A SBEM informa aos associados que enviou uma carta à Revista Veja em função da reportagem publicada na semana passada. O conteúdo da carta - abaixo - não foi divulgado no site da SBEM porque a diretoria está aguardando um posicionamento da revista. A diretoria da SBEM Nacional e a Comissão de Comunicação Social compartilham das providências e pedem aos associados que aguardem a publicação do conteúdo no site. Posteriormente, o texto ficará disponível para utilizar nos sites das Regionais.
À Revista Veja,
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia vê com preocupação a reportagem “Parece Milagre!”, que estimula o uso, não autorizado pelas agências reguladoras, do medicamento liraglutida, com a finalidade exclusiva de emagrecimento. No momento, a única indicação reconhecida para este produto é o tratamento do diabetes. Estudos estão sendo realizados em relação ao seu emprego no tratamento da obesidade acompanhada de complicações, mas ainda não foram publicados os resultados do acompanhamento de um número suficiente de pacientes para que esta indicação terapêutica seja aceita. Enquanto isso não acontecer, não concordamos com a prescrição da liraglutida para perda de peso em pessoas não portadoras de diabetes.
A obesidade é uma doença crônica que pode ter graves consequências. Seu tratamento é difícil e são poucos os recursos terapêuticos disponíveis. Matérias como “Parece Milagre!” induzem a população a acreditar em uma solução mágica para este grave problema, o que não é verdade. Liraglutida é um medicamento novo e ainda serão necessários vários anos de farmacovigilância para correta avaliação de seus efeitos a longo prazo. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia se prontifica a assessorar os órgãos de imprensa nos assuntos referentes aos distúrbios endócrinos e metabólicos, de modo a evitar que informações sem embasamento científico sejam veiculadas à população.
Atenciosamente,
Dr. Airton Golbert
Presidente da SBEM
Presidente da SBEM
Dr. Ricardo Meirelles
Presidente da Comissão de Comunicação Social da SBEM
Presidente da Comissão de Comunicação Social da SBEM
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Sem você, meu amor, eu ainda sou alguém
Se algum dia me pedirem para escrever sobre casamento, vou dizer que ele se divide em dois tipos: o exclusivo e o inclusivo.
O casamento exclusivo, de modo geral, começa com uma sensação muito boa. Corpo e mente celebram a presença do amor com manifestações físicas e psicológicas. As sensações que o amor provoca são reconhecidas - e desejadas - por muitos de nós.
Porém, o casamento exclusivo se aproveita desta condição e leva os cônjuges a acreditar que precisam ser a razão da existência um do outro. Fonte exclusiva de prazer mútuo.
O casamento exclusivo privilegia a relação conjugal em detrimento de outras formas de relacionamento, como a amizade, o coleguismo, o parentesco, ou a vizinhança, exigindo status de exclusividade relacional, em que um parceiro precisa ser “tudo para o outro”. Isto requer, logicamente, parceiros que olhem somente um para o outro, que esperem encontrar um no outro a totalidade que necessitam, para que dela retirem os fundamentos para a existência conjunta.
O casamento exclusivo é o mais facilmente encontrado por aí. Você o encontra nas artes, na poesia, nas novelas, nos romances, nas peças publicitárias, na música. Como por exemplo, na belíssima canção Samba em Prelúdio, composta por Baden Powell e Vinícius de Moraes.
Eu sem você não tenho porquê / porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz / jardim sem luar / luar sem amor / amor sem se dar
Eu sem você / sou só desamor / um barco sem mar / um campo sem flor
Tristeza que vai / tristeza que vem / Sem você meu amor eu não sou ninguém
Sem a pessoa amada, o poeta não é ninguém. Nada mais tem valor. Poeticamente falando, é uma idéia linda. Mas experimente transportá-la para sua vida conjugal. É problema na certa. Afinal, você não será tudo para o outro o tempo inteiro, e vice-versa. O casamento exclusivo impõe um peso que fica muito difícil para qualquer relação suportar.
O casamento inclusivo, por sua vez, só se encontra nos casais amadurecidos pela experiência da conjugalidade. O casamento inclusivo compreende que embora haja muitas coisas que só podem ser alcançadas dentro do casamento, há também muitas outras que podem ser alcançadas fora dele. O casamento inclusivo reconhece a conjugalidade como espaço de desenvolvimento das identidades de cada parceiro. Nele, as imperfeições fazem parte do processo, e as conexões não se dão apenas nos momentos bons.
Libertos da expectativa de ser tudo para o outro, podemos desfrutar, embora não o tempo todo, a agradável sensação de ser uma luz na chama de outra vida, um luar no jardim de outra pessoa. Aí sim podemos ouvir, abraçadinhos, Vinícius de Moraes.
João David C. Mendonça
[Publicado na coluna de setembro da Revista Estação Aeroporto]
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