sábado, 26 de janeiro de 2013

O que está no ar...

No início de novembro, na hora do almoço, a seguinte conversa aconteceu entre meu filho de quatro anos e eu:

- Pai, quando você acabar o seu trabalho, você vai lá no shopping, passa na RiHappy e compra um presente pro meu irmãozinho.
- Mas a mamãe não tá grávida, filho.
- Mas pai, a gente já comprou um presente pro irmãozinho, lembra?
- Lembro sim, mas aquele irmãozinho que tava na barriga da mamãe era bem pequeninho, desse tamanhinho, e ele não conseguiu crescer, ele morreu na barriga da mamãe, você lembra disso?
- Lembro, mas é porque aquele bebezinho era uma menina, e a menina não queria sair lá de dentro. Agora eu acho que vai nascer um menino.

Alguns dias depois deste papo, eu e minha esposa descobrimos que estávamos grávidos.
E ontem, o nosso ultra-som confirmou o que meu filho pressentiu em novembro: que vai nascer um menino.

Esta pequena história pode ser apenas uma interessante coincidência, e que a gente que é pai já leva pro nosso lado coruja de ser. Pode ser. Porém, ela inevitavelmente me remete a um fenômeno que há tempos venho percebendo no meu convívio com as crianças, tanto no contexto profissional quanto pessoal: a incrível capacidade que elas têm de captar fatos, experiências e sentimentos, de perceber o não dito, de serem sensíveis a sinais que estão no ar.

Isto me leva a outro pensamento: nós muitas vezes subestimamos esta habilidade infantil, e moldamos o nosso relacionamento com a criança baseados na crença de que ela não entende o que estamos falando, ou de que ela nem percebe o que está acontecendo. Equívoco nosso. Ela percebe. O que pode ocorrer é que ela, por sua inexperiência, não consegue decifrar aquilo que ela está percebendo. As tentativas de interpretar o que está no ar e de dar significado ao que ela está sentindo levam a criança a fantasiar situações. Na ausência de esclarecimentos, ela sai em busca de tentar tirar as suas próprias - e limitadas - conclusões. Tais conclusões, muitas vezes, apresentam-se piores do que a própria realidade que ela está tentando compreender.

Por isso, a cada dia sinto-me mais convencido de que a melhor maneira de ajudarmos as nossas crianças a vivenciarem as experiências da vida consiste em desenvolver com elas uma relação de honestidade e transparência, qualidades imprescindíveis para mantê-las saudáveis emocionalmente.

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