1° ponto
Tudo começou com uma notícia falsa veiculada no ano passado,
mas que em tempos de internet, foi ganhando novas versões até se transformar em
verdade. No Brasil, o assunto estourou nas redes sociais nas últimas semanas. O
que era uma notícia fake passou a “inspirar” pessoas mal intencionadas e acabou
virando um “jogo” cuja fama rapidamente se alastrou, mesmo sem se saber a sua
dimensão de veracidade.
2° ponto
Quando um fenômeno como esse “cai na rede”, já não se sabe
mais o que é real ou o que é invenção, pois a histeria generalizada tomou conta
da situação.
3° ponto
A Imprensa adora disseminar pânicos. Sensacionalismo dá
ibope. E no mundo de hoje ela ganhou uma aliada: as Redes Sociais – um espaço
onde uma grande porcentagem de informações são frutos de boatarias, mas que são
repassadas freneticamente, sem checagem e sem conferência da veracidade dos
fatos.
4° ponto
A grande maioria das notícias em relação ao jogo não passa
de boatos. Os boatos se alimentam da boa vontade e da ingenuidade das pessoas
que querem ajudar. E é claro que isso também gera desinformação. Não há jogo
nenhum a ser instalado. Não há pessoas dando balas envenenadas em escolas. Tudo
boato. Basta alguns segundos de busca na web para saber disso.
5° ponto
Compartilhar esse tipo de conteúdo sensacionalista só
amplifica o problema, e acaba até mesmo servindo de combustível para que o tema
continue vivo, inclusive incitando a curiosidade adolescente sobre o assunto, o
que os torna vulneráveis a situações de risco. Portanto, não repassar
informações e notícias sensacionalistas pode ajudar a interromper a
disseminação do pânico.
6° ponto
Mas para além da agitação midiática, e do grau de exatidão –
ou não - das notícias, há um tema relevante a se tratar aqui: o suicídio é uma
triste realidade que afeta famílias em todo o mundo. Muito antes do desafio da
baleia. A taxa de suicídio na população de jovens e adolescentes infelizmente
vem crescendo a cada ano no Brasil.
7° ponto
90% dos casos de suicídio estão ligados a casos severos de
transtornos psiquiátricos como depressão, drogadição ou esquizofrenia, que
muitas vezes impedem o indivíduo de exercitar sua capacidade de ponderação
sobre a própria vida.
8° ponto
Cuidado com respostas fáceis e simplistas que não ajudam em
nada. Alguns entram numas de culpar os pais, com o discurso de que falta amor e
cuidado, ou que faltam limites ou até mesmo “chineladas”. Não é tão simples
assim. Atendo muitas famílias cujos pais são amorosos, presentes e cuidadosos,
e sofrem por sentir seus filhos silenciosos e distantes neste momento da
adolescência.
9° ponto
Um adolescente não se mata porque alguém lhe deu um comando
num “jogo”, a não ser que já haja um transtorno mental não tratado, ou até
mesmo um momento crítico de desorganização emocional que gera ideações suicidas
e riscos de atos autodestrutivos que o coloca em situação de vulnerabilidade
psicológica. Ambas as situações de transtornos ou crises podem ser tratadas ou
até mesmo superadas.
10° ponto
O foco do debate, então, não pode se restringir a um jogo ou
uma série de TV, mas deve ser, por exemplo, a atuação da Depressão sobre a vida
dos jovens influenciados por ela. Esta sim deve estar também no centro do
debate, pois ela é uma doença que se aproveita do silêncio em torno dela, que
se alimenta da desinformação a seu respeito, que tira proveito do preconceito
que envolve a aceitação da sua presença. Silêncio, Desinformação, Preconceito,
são todos aliados da Depressão, que dificultam o tratamento e a cura.
11° ponto
Talvez este seja um momento importante para que as famílias
possam conversar mais com seus filhos. Não apenas sobre dores, sofrimentos,
depressão e suicídios - o que é importante também, mas especialmente sobre
coisas banais, pequenas situações do cotidiano, sobre interesses em comum,
filmes, comida, futebol, seja lá o que for. Uma oportunidade para resgatar
diálogos que naturalmente se enfraquecem durante o período da adolescência.
12° ponto
É o momento também para se perder o medo de se falar sobre o
suicídio, para debatermos sobre os fatores de risco que envolvem o suicídio,
para falarmos sobre a importância de pedir ajuda, para descartar a velha
mentalidade de que “terapia é coisa pra gente louca”. Loucura mesmo é não estar
bem e não pedir ajuda.
13° ponto
Quando alguém tira a própria vida, muitas vezes não o faz
porque não ama a sua vida. É porque ama tanto a vida, que não quer mais
conviver com o problema que lhe impede de viver a vida que ama. Se esta pessoa
tiver a possibilidade de conversar sobre este problema que lhe perturba, ela
poderá ter a chance de reescrever sua vida, de mudar a trama, de adicionar
capítulos novos à sua história, de pegar de volta a vida em suas mãos. Que toda
essa onda de baleia azul sirva ao menos para isso: despertar as pessoas para as
possibilidades da Vida!
João David Cavallazzi Mendonça
Um comentário:
Muito bom e esclarecedor!!
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